Por lá... mas aqui


As vezes eu acho que as coisas estão acontecendo sem mim.
É um pensamento muito ruim imaginar que o mundo não sabe que eu existo e que eu posso passar minha vida inteira em completo anonimato.
É tão estranho imaginar que eu nunca vou conhecer aquele cara que nesse exato momento recebeu pelo telefone a notícia que foi promovido, ou então a mulher dele andando apressada para encontrar-se com seu próximo caso extra-conjugal. Ou até mesmo o filho adolescente fumando escondido no quintal da casa.
É tão estranho que exista tantas pessoas no mundo que, queira ou não, compartilham a mesma espécie de sofrimento e alegria, mas que nunca vão se conhecer ou compartilhar experiências.
É como habitar uma mesma casa com alguém que você nem fala ou sabe quem é. Ele está ali sempre, falando ao telefone, tomando banho, vivendo uma vida que, no entanto, não se cruza com a sua... ainda que estejam na mesmo lugar.
O que me mata é que eu sei que existe tantas pessoas incríveis por ai, mas eu estou aqui recluso por uma ou duas rodovias que delimitam onde meu mundo começa e termina.
Já assistiram "Diário de uma Motocicleta"?
Dá vontade de sair por ai mesmo numa motocicleta as vezes. Mas não tenho coragem...
Acho que tudo isso é simplesmente o puro desejo de conhecer uma única pessoa que está lá, perdida nesse mundo de gente. Acho, quase com certeza, que esse sentimento seria saciado se viesse a luz do meu conhecimento, apenas uma, somente uma pessoa que é na verdade aquilo que eu procuro dentre os rostos desconhecidos desse planeta.
Mas ainda assim...
Acho que essas coisas que digo agora, são somente o efeito do clima frio e do céu nublado. Apesar que deve existir um motivo muito concreto pra eu mudar junto com o clima... Sei lá. Só sei que dias frios são cinzas demais!
Queria estar num lugar amplo agora. Algo como uma galeria, um corredor.
O corredor do Louvre talvez...
Ah sim, o Louvre.
Ala Denon. Piso de madeira, paredes claras e alguns séculos de história viva nos rostos a base de têmpera. Ah sim, queria estar lá...
Não por Monalisa. Nem por Da Vinci.
Mas por mim.


Porque é pra lá que eu vou sempre que divago nos dias frios. Não sei porque ou como...
Acho que me fascina o fato de aqueles quadros foram pintados há séculos atrás e ainda permanecem impregnados de vida, de mistério e de um confuso silêncio sepulcral.
Quando eu estou lá (em pensamento) é como se houvesse algum segredo muito denso pairando imperceptivel. Como se todos tivessem parado de falar no exato momento em que cheguei.
Mas isso é apenas coisas sem sentido da minha cabeça.
Existe toda uma vida real por ai.
Real.
E o real, bem... não tem piso de madeira, paredes claras e séculos de história.
Tem somente um chão de asfalto, muros descascados e poucos anos de vida.
Acho que preciso urgentemente de uma longa viagem para latitudes longínquas...

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