Metodologia Científica I

Acho que durante nossas vidas acontecimentos que valham a pena ser ditos, no sentido de acrescentar às pessoas, é uma coisa que contamos a dedo. Sempre empenhados em objetivos pouco relevantes para nosso crescimento como seres humanos acabamos percorrendo um caminho de evolução muito lento, marcado por uns raros eventos de grande significado.
Mas se existe algo assim em minha vida, certamente tem a ver com a morte da minha mãe. Acho que descrever como todo o processo culminou no fatídico 28 de Março do ano de 2002 não é exatamente importante. Quando se perde uma pessoa, por incrível que possa parecer, o pior não é a morte em si. A grande dificuldade de uma perda, em especial a de uma mãe, é o grande caos no qual sua vida se transforma logo após.
Eis a conjuntura: cinco filhos dependentes e um pai cuja voz eu pouco tinha ouvido durante minha vida até aquele momento. Minha mãe sempre foi naturalmente a grande mediadora do lar e, portanto, o equilíbrio. Quando ela morreu fomos obrigados a ser auto-suficientes. Cada um de nós estava abalado demais para lidar com os problemas uns dos outros, até porque não sabíamos direito nem como lidar com os nossos. Em outras palavras, éramos todos filhotes de pássaro atirados para fora do ninho sem nenhuma idéia de como voar.
E lá, bem no meio dessa queda livre, estava eu nos primeiros dias da minha sétima série, no auge de um conflito interno e sendo obrigado a lidar com situações muito maiores que um garoto de 13 anos. Tinha duas opções: enlouquecer ou enfrentar tudo de uma vez. Enfrentei. Chorei demais, errei demais e também perdi demais. Fui e sou um adolescente com uma mentalidade velha demais para a minha idade porque fui forçado a amadurecer cedo demais. Penso em casamento, quando deveria estar pegando adoidado por aí; penso em como retardar o tempo, quando não deveria nem saber o que é relógio; e penso em como seria ter uma mãe, quando os outros sabem exatamente como é.
É interessante como a vida sempre arranja uma forma de conseguir o que ela quer, mesmo desse jeito mais difícil. Mas é tudo uma questão de perspectiva. Posso parecer frio por pensar assim, mas se minha mãe não tivesse partido não seria a pessoa mais forte e melhor que sou hoje. Não fosse isso, ainda existisse um abismo entre eu e meu pai; eu não soubesse que a felicidade não é um sentimento que surge quando pedimos, mas um estado que alcançamos quando realmente queremos e buscamos. Talvez nunca chegasse a descobrir como superar uma das maiores perdas que alguém pode enfrentar, e saber que a morte é somente uma etapa do caminho. Não seria quem sou hoje e não estaria neste lugar que estou e agradeço por estar.
Sinto sim a ausência de uma mãe. Mas eu aprendi que durante nossa jornada invariavelmente sofremos muitas perdas. Todos os dias somos desfalcados de alguma forma. Seja o tempo que arranca um dia da sua vida, as chaves que você nunca irá encontrar, ou alguém. O que realmente importa é o que você faz quando perde. O que importa é se você permanece na eterna procura do que nunca achará ou se aceita, solene, a perda.
E aqui vai a dica: aceite. Porque quando aceitamos automaticamente reconhecemos que nunca estivemos destinados a possuir. E isto é o primeiro passo para libertar-se, superar, e deixar que a vida lhe dê novos ganhos. Acho que isso é uma coisa que vale a pena ser dita.

3 comentários:

olga disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
olga disse...

do qual você não vai lembrar quando ler isso.

Que orgulho de ti, de ler essas coisas que precisavam ser ditas, mas que ditas do seu jeito são sempre melhores de serem lidas. Melhores do que qualquer expectativa...

Sou sua fã *fim da rasgação de seda*

Icaro disse...

poxa.
você é um achado. =)