Amor



As vezes eu fico pensando.
Que necessidade é essa a do ser humano de encontrar alguém com quem possa compartilhar um vida (ou mesmo uma hora)?
É mais do que puramente desejo ou libido. É muito mais, muito mais...
É como se quando a gente nascesse já viéssemos faltando um pedaço pelo qual buscamos incansavelmente por todos nossos dias. Muitas vezes esse é o objetivo de toda uma vida! Encontrar a parte que lhe falta.
Mas não é mesmo uma falta de sensatez?
A gente se esflacela mais do que se enobrece nisso que é amor. Nisso que chamamos de amor... Aliás, este amor existe?
Ah claro que existe, você nunca sentiu? - você diz.
Talvez essa pergunta que você me faz só dialogue com um amor em específico. Acho que é aquele que nos põe loucos. Loucos pra estar ali pele com pele... Numa proximidade tão estreita que um é o outro e outro não sabe onde começa. Corações palpitando num mesmo ritmo, pulsando uma música que é mais linda de todo o mundo. Mãos que quando se tocam fazem fluir uma corrente represada de pura vida e glória. Os relógios enlouquecem em batidas descompassadas, arrasados diante da grave constatação de que o tempo é nada e impotente. E aí os lábios se tocam, o sangue reverbera com maior intensidade berrando o grito que em todos os cantos do corpo é ouvido. As bocas se unem numa fome voraz de um pelo outro, como se finalmente tudo pudesse ser eterna e indestrutivelmente unido. E é mesmo isso que deveras acontece, quando tudo é só pele e finalmente um contém e o outro é contido.
É disso que você me pergunta?
Ah já senti sim claro.
Nunca foi tão drástico como descrevi mas...
Mas é amor?
Não... não pode ser.
Acho que o amor tem a ver em desfalecer com um sorriso ou ser fatalmente atingido por um jeito de olhar. Deve ter a ver com querer calcular a equação que rege o balançar do cabelo ao vento, ou o interesse em conhecer as ondas que saem vibrando com tanto poder da garganta que propaga o riso. Acho que amor é conhecer, saber e compreender-se um ao outro de uma forma tão profunda e clara que os pensamentos vão de um pro outro sem precisar ser ditos. Deve ser amor sim quando as vezes a imagem daquele rosto vem na cabeça, sem querer, e o dia de repente é o mundo melhor que tanto sonhamos. É pois sonhar com o que já é real e viver o sonho de fato. Amor tem a ver com ser completo para viver em conjunto, e assim um ser o suporte do outro. Amor só pode ser o brinlhante destino de se viver anos, séculos e eternidades em uma conjução perfeita e forte que é o acima de tudo e o apesar de nada.
É disso que você me pergunta?

Bom, neste caso...
Não.
Nunca.
Nem sei quando.
Ou se um dia.
Ainda que viva por,
ansei por,
alimente-me de.
O fato é que esta é a dádiva de uns poucos
e o fardo de uns muitos.
Não sei quando, ou se um dia...
ou até...
(e isto é o pior)
se nunca.

2 comentários:

descolonizado disse...

eu nunca disse: "eu te amo"
na verdade nunca senti que devesse realmente dizer, sou contra a banaliação da palavra amor!

no dia que sentir que devo, direi.

Ilis disse...

du, não que eu acredite... mas se existisse o mais próximo seria justamente isso "ser completo para viver em conjunto".

aiai du... depois de tanto tempo ainda fico perplexa com a tua capacidade de sintetizar idéias com as palavras mais adequadas em frases curtas. :] :*